ubiquidade
Para ti,
Sabes quando o tempo brinca connosco? Esconde-se e revela-se quando quer, como a flor que cresce por si, autónoma. Este momento – o agora – é ubíquo, pois se te estou a escrever e se tu estás a ler. É como a origem da bifurcação.
Hoje, durante a caminhada matinal, descobri que a rua por que erro há anos revela-se-me outra contanto que percorra o passeio oposto: os prédios têm novas matemáticas e alturas; as palavras são expressas como que por estrangeirados de pronúncia díspar; e o vento, esse impulsionador das marés, enfrenta o viandante sem temor nem pudor.
Por conseguinte, não estranharás quando te confidenciar que me baralhei a caminho da praia. Perdi-me até entrar mar adentro, de onde te escrevo e tempero esta carta de sal. Respira-a aí tão longe, no centro da terra, onde os poetas peregrinam para ser enterrados.
Esse deserto onde repousam as mais daninhas das ervas e onde envenenam os mais mortíferos dos frutos. Desterro onde só tu justificarás a minha presença (será que algum dia??…) e para onde comunico os meus mais sinceros cumprimentos, a ti, minha amada, à tua adorada tia e ao carteiro que te entrega (no momento que, quando for, será o certo) tamanha maresia.
Do sempiterno teu,
Pedro