todas as cartas que nunca te enviei
Para ti,
Não imaginas a quantidade de cartas que te escrevo, e não te envio. Esta proximidade que estabeleço contigo é a mais sublime ilusão: fico feliz - mas mesmo tão feliz!! -, por imaginar que sentes borboletas na barriga por leres o que nunca partilharei contigo!
Um destes dias, por exemplo, contei-te quando fui expulso de uma aula de português, concluída a leitura de uma composição deveras original; já noutro dia, vim disparado narrar-te o quão poética era a árvore por que passei, com os ramos repletos de bolas de futebol…
Nada disto te relatei, assim como agora não te vou confidenciar o quão radiante fiquei por te ver sorrir, após surpreender-te com um presente inesperado. Mesmo febril e de olhos mirrados, as tuas bochechinhas dançaram e entrevi-as genuinamente livres e naturais, como dois amantes que se confiam um ao outro.
Haverá melhor razão para te continuar a escrever? Nunca saberei a resposta, visto que - tal como vês -, não te enviarei o que agora te dedico. Limito-me a aproveitar as borboletas que sinto na barriga para imaginar que sentes borboletas na barriga quando me lês. E sou feliz!
Do sempiterno teu,
Pedro
ps: um destes dias deveríamos levar as nossas borboletas a passear…